Katara ia no primeiro réptil. Com a maior pressa. O coração apertado no peito.
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A mansão das Ilhas Dinkers era um edifício branco, sólido, em estilo
gregoriano, com altas colunas na entrada, lembrando um templo grego. Ao
seu redor, sobressaíam-se vegetações variadas, como madressilvas,
filodendros e diversas espécies de palmeiras tropicais. O dono caminhou
para a casa com um sorriso de extrema satisfação. Havia conseguido
derrotar aquele que nem mesmo o Senhor do Fogo vencera! Agora, tinha o
tesouro suficiente para trazer para junto de si aquela que ele amava!
Entrou na casa e gritou:
-Mãe, cheguei!
Ouviu um barulho e observou uma parede ser empurrada e sair do local
antes totalmente escondido, uma senhora idosa, que andava pé ante pé,
ainda desconfiada de quem poderia estar na sala.
- Mãe, sou eu!
- Ah, é você, Júnior?! – andou até o filho e pegou-o pelo colarinho.
Era pequena perto do filho, mas se esticou toda e puxou-o para baixo.
- Ei, para, mãe...
- Você merecia umas palmadas, moleque! Onde já se viu! Me deixou aqui,
sozinha! Veio um menino aqui dentro e tive que me esconder. Acho que
era o Avatar, que derrotou o pai da Azula. Que horror, eu fiquei
apavorada! Ele acabou com o barracão lá de fora. Teu pai gostava tanto
de ficar lá... – começou a soluçar. Ele botou seus empregados pra
correr, também. Depois quebrou aquela máquina horrível que você
insistiu em comprar. Júnior, se você me deixar aqui sozinha de novo,
vou morar com a sua irmã e o marido dela. Ele é um traste, mas pelo
menos não vou ficar com meus netos, já que você não me dá nenhum neto
e...
- PARA, MÃE!! – nessa ele já não agüentava mais ser puxado pelo
colarinho, tendo que ficar na posição em que o Napoleão perdeu a
guerra. – Meus ouvidos já estão doendo de ter que ouvir sua ladainha!
Eu vou por em prática os planos que venho fazendo há anos! Agora já
possuo condições de ter a esposa que quero.
- Se você está falando da Azula pode esquecer! Ela é prisioneira lá na
Nação do Fogo, junto com o pai dela e eu não quero que você se arrisque
a buscá-la! Além do mais, ela parece muito dominadora pro meu gosto.
- Mas, mãe, eu amo a Azula! Faz anos que eu não a vejo, mas eu não me
esqueço dela! Eu coloquei homens garimpando o ouro da ilha com o
objetivo de estar em condições de torná-la minha esposa.
- Eu não gosto dela! – disse a mãe – definitivamente, é melhor você esquecê-la. Não quero uma presidiária na família!
- NÃO! EU VOU BUSCAR A AZULA AGORA! EU DERROTEI O AVATAR E VOU SALVAR AZULA E ME CASAR COM ELA!
Dizendo isso, Júnior saiu rapidamente deixando a mãe perplexa.
- Júnior! Não saia! Não me deixe falando sozinha!
Ele queria sair o mais rápido possível pra ver o que tinha sido estragado (e pra se ver livre do sermão também).
- Que porcaria! Aquele pivete me deu um baita prejuízo!
Caminhou em direção à praia e ficou a olhar para o mar e para o sol que
já se escondia no horizonte e sorriu pensando na viagem que faria logo
mais até a Nação do Fogo, para resgatar Azula!
Ouviu um barulho e se escondeu atrás de uma rocha!
Percebeu a chegada de um grupo montado em répteis, que caminhavam sobre a água.
Pensou que fossem amigos do Avatar mas quando viu que eram Ty-lee e Mai deixou a apreensão de lado e saiu para recebê-las.
Como não tinha sido informado de nada desde a época em que elas se
aliaram com a Gaang (turma do Aang) ele nem desconfiou. Mas quem eram
outras aquelas pessoas? Não parecia gente amiga da Nação do Fogo! Ficou
cismando e se pôs a descobrir, assim que chegassem.
- Hei, Júnior! – gritou Ty-lee, quando chegou.- Ele não é lindo? – disse baixinho para Mai.
- Lembre-se de quem é a namorada dele! – disse Mai – Se Azula ficar livre e souber que você paquera o namorado dela. . .
- Ah, também ele nem é tão bonito assim! – Ty-lee disse fingindo pouco caso.
- Eu ouvi isso, Ty-lee! – disse Júnior – dando risada, enquanto elas chegaram.
- Ah, des-desculpe, eu... – Ty-lee começou a guaguejar toda vermelha.
Sokka, Katara, Toph e Suki, desceram na praia em silêncio, enquanto Mai
e Ty-lee conversavam com o dono do local. Katara sentia a presença de
Aang, mas não sabia explicar nem pra si mesma, sabia também que ele não
estava ali próximo a eles.
- Júnior, estes são nossos amigos. Sokka, Suki, Katara e Toph.
- Vocês são benvindos como amigos da Mai e da Ty-lee. Vamos tomar alguma coisa em casa?
- Na verdade, Júnior estamos aqui por causa do Avatar.
Júnior se retesou, embora com cuidado pra não perceberam, mas Toph sentiu imediatamente a mudança dele.
- Avatar? Mas porque vocês procuram por ele? Mai, Ty-lee, preciso que
me ajudem num favor. Podemos falar um momento? Seus amigos vão gostar
de conhecer a ilha. Aproveitem que ainda dá pra ver alguma coisa antes
que o sol se ponha. Teronius! – gritou para um dos empregados – leve os
amigos da Mai e da Ty-lee para conhecer a ilha.
Seu objetivo era falar a sós com as duas que eram amigas da Azula. Não confiava nos outros.
- Digam-me, onde estavam quando Azula foi presa e o Senhor do Fogo caiu?
Ty-lee ia falando, mas sentiu um aperto de Mai em seu braço e calou-se
no mesmo momento em que Mai arrastava Júnior para a frente e começava a
tecer um monte de histórias fantasiosas e mirabolantes sobre como
escaparam de serem presas como Azula e então percebeu que o rapaz não
sabia sobre a “traição” delas.
Enquanto isso, o empregado andava na frente conversando com Sokka e Suki. Katara e Toph seguiram atrás e se afastaram um pouco.
Katara olhou desesperada para Toph e disse:
- Não sei porque, mas não confio naquele cara!
- E não pode confiar mesmo! – disse Toph – Ele mentiu. E eu sei onde está o Aang.
- Onde!?
- Ele está embaixo da terra, numa caverna. Eu senti a caverna quando
coloquei os pés no chão. E nela há um rio subterrâneo também. Sem falar
na fonte de energia que está vindo de baixo para cima. É o poder de
Avatar do Aang, tenho certeza!
- Vamos contar para o Sokka e para a Suki.
Correu na frente e disse:
- Sokka, Suki, o Aang está aqui!
- O quê? – Sokka ficou estático e o empregado, percebendo que eram
amigos do Avatar, virou-se e começou a correr pra contar ao patrão, mas
Suki, rápida como sempre, deu um salto e derrubou-o, mantendo-o
imobilizado.
- Diga, se não quiser se machucar! Onde colocaram o Avatar! – disse Sokka, fazendo cara de bravo.
- Eu, eu, não sei!
- Sim, ele sabe! – disse Toph, colocando a mão no chão. Ele sabe onde o puseram!
- Meu patrão é muito rígido, por favor!
- A gente não o deixa fazer nada a você se cooperar. Vamos, mostre-nos agora!
O homem apontou para um local próximo, cercado por vários arbustos altos e disse que o buraco foi tampado com madeira e pedras.
Suki aplicou o Ki no homem (ação de bater com os dedos em determinadas
partes do corpo imobilizando o oponente) e saíram rapidamente para o
local apontado.
Toph usou sua dobra de terra e levantou rapidamente as pedras e Sokka pegou as toras de madeira, com a ajuda de Katara e Suki.
- Como vamos descer? – perguntou Sokka, olhando para baixo.
- Assim, ó! – dizendo isso, Toph deu um susto neles movimentando um
imenso torrão de terra criando uma grande rachadura ao redor e fazendo
todos eles descerem rapidamente para o buraco.
- Aaaaaiii!! Toph! Como é que você faz isso com a gente!? E se algum de nós se machucar!? – grita Sokka apavorado.
- Relaxa, aí ô, florzinha! Você sabe que eu tenho tudo sob controle, não sabe?
- NÃO ME CHAMA DE FLORZINHA!!!!
- Gente, para de brigar! Toph, como você vai fazer pra parar isso? – diz Katara.
- Parando! – diz Toph, parando imediatamente, fazendo Sokka se estatelar de cara no chão!
- Urrrgh! Essa foi de propósito, não foi? – olhando feio pra Toph.
- Foi! *~*
- Mas..., Toph, por onde a gente vai agora? Tá tudo escuro por aqui! Não dá pra ver nada! – diz Suki, tentando ver alguma coisa.
- Pra mim, tá normal. Eu nunca vi nada mesmo.
- É Toph, agora nós somos os cegos e você é a única que pode nos guiar. – disse Katara.
- Segurem na minha mão! - Toph estendeu a mão e pegou a mão de Katara,
que por sua vez pegou a mão de Sokka, que pegou a mão de Suki e saíram
andando por um túnel escuro, que Toph ia abrindo aos poucos.
- Você não disse que tinha um rio aqui, Toph? – perguntou Suki.
- Sim, mas está logo abaixo da gente. Eu sinto que não tem apoio para
os pés ao lado do rio nesse ponto em que estamos. Então vamos seguir
até o local em que a caverna se abre, que ao meu ver é lá que acharemos
o Aang.
- Ai, meu Deus! Como será que ele está? – choramingou Katara.
- Calma, eu sinto que ele está vivo! O meu amigo “Dedos Leves” é forte.
– disse Toph, parando e abrindo uma passagem em diagonal para baixo. -
Descendo! Cuidado com os degraus!
- Mas que degraus. . . oooooppaaa!!! – Sokka escorrega e leva todo
mundo junto para baixo, com uma poeira de terra em cima, fazendo todos
tossirem.
- Coff, coff, coff.... Sokka, seu molenga! Porque não soltou a mão das
meninas pra cair sozinho já que não consegue se segurar!? – Toph falou
se levantando, Katara e Suki tossindo muito, mas pararam quando olharam
e enxergaram o interior da caverna.
- Gente, olha pra isso!!!!
Eles nem conseguiam se mexer de tão abismados. Apenas olhavam e Toph
que não estava entendendo nada, perguntou? O quê? Estão vendo o Aang? O
que está acontecendo?
- Toph, você conhece ouro? – perguntou Suki.
- Bem, eu sinto que as paredes são de um metal colorido, amarelado...é
– disse, tocando a parede da caverna – isso está cheio de ouro. Mas, e
daí?
- Daí que o ouro é o metal mais precioso que existe!! – falou Suki.
- Grande coisa! Nem dou bola pra isso! – disse Toph.
- Tem razão, Toph! – disse Katara. – Precisamos achar o Aang!
- Ele está logo mais à frente. – falou Toph.
Correram para a frente e viram Aang caído no chão. Katara correu na
frente e suas lágrimas caíram no rosto de Aang, enquanto ela o
abraçava. Ele estava inconsciente e muito, muito pálido.
- Katara, não chore, você tem que curá-lo, agora. – disse Sokka, preocupado.
Katara dobrou a água do rio e colocou-as sobre Aang. Posicionou suas mãos a fim de curá-lo, mas não sabia o que ele tinha.
- Se eu soubesse o que o deixou assim!
Toph, instintivamente, segurou a mão de Aang e de repente gritou:
- Mercúrio! Ele tem mercúrio no corpo!
- Toph, como você sabe?
- Simples, eu sou dobradora de terra e de metal também. Acontece que
mercúrio é um metal, aliás, o único metal líquido que existe. Ele é
usado na extração do ouro, por isso o Aang está doente! O bandido lá de
cima está usando metal pra garimpar ouro do rio que sobe pra superfície!
- E agora!? – chorou Katara. Como vou tirar isso dele?
- Você pode não conseguir tirar, mas eu consigo – disse Toph.
- Toph, cuidado! Não deixe que ele se machuque por dentro.
- Calma, Katara. Seu namorado vai ficar novinho em folha. – dizendo
isso, Toph colocou as mãos sobre Aang e com a dobra de metal, começou a
movimentar lentamente o mercúrio dentro do corpo dele, fazendo com que
este saísse pela boca. Aang começou a tossir e levantou o corpo
soltando sangue pela boca. Depois desmaiou novamente.
- Pronto! O mercúrio já não está mais no corpo dele! Agora é com você, Katara!
Katara colocou as mãos sobre Aang e depois de vários minutos de tensão,
todos debruçados ao redor dele, observando-o com apreensão, ele abriu
os olhos e viu a mais bela visão que poderia desejar. Sua alma gêmea o
abraçou com os olhos embargados.
- Katara, eu ...
- Sim, Aang!
- Eu tô com sede.
- Ah, -__- certo, toma, bebe.
Katara, se afastou, pegou água do cantil e deu a Aang que bebeu quase tudo.
- Hei, vamos deixar eles a sós um pouco? – disse Suki, puxando Toph e
Sokka. Os três se distanciaram e foram observar as paredes da caverna,
brilhantes, cheias de pedaços de ouro,embasbacados. Menos Toph, que não
enxergava e também não dava a mínima. Para ela, o metal tinha o mesmo
valor que a terra.
Aang e Katara estavam sentados no chão abraçados por algum tempo até que Aang tomou coragem e falou:
- Katara, eu acho que te devo desculpas. Fiz errado de novo, não é?
- O que foi que você fez de errado, Aang?
- Não te disse novamente aonde ia. Mas desta vez, houve um imprevisto.
- O que aconteceu?
- Na noite em que chegamos na casa de chá, vindo da Fazenda Gyatso, eu
não consegui dormir e saí para o jardim. Ouvi Suki falando com o Sokka
e dizendo triste que também queria se casar. Sokka dizia que não
poderiam casar pois ele ainda não podia pagar uma festa e outras coisas
necessárias para viverem juntos.
- Suki também quer casar? Podíamos falar com o Zuko e faríamos dois casamentos e uma festa só.
- Foi o que eu pensei, mas quando fui falar com o Zuko, ele pensou que
eu falava de dois casamentos, mas pensou que era dele com a Mai.
- Que chabu!
- Daí, eu expliquei para ele sobre a conversa que ouvi, mas dizendo que
seria maravilhoso fazermos um casamento triplo. Ele então me contou que
descobriu que a mãe dele estava viva.
- Puxa, que boa notícia! Mas porque vocês não me contaram?
- Ele provavelmente se lembrou o quanto você sofreu pela morte da sua mãe e achou que isso ia te deixar triste.
- Imagina, eu fiquei feliz por ele. Mas e depois?
- Bem, viemos aqui pra encontrar a mãe do Zuko. Ele disse que quer se
casar com a mãe assistindo tudo, junto dele. Então viemos e encontramos
a mãe dele. Ela está doente, contaminada com o mercúrio também. E não é
só ela. Outros moradores da ilha próxima daqui também estão. Ele foi
para a ilha maior com o Appa e o General Iroh tentar auxílio médico. Os
nativos que moravam perto da mãe do Zuko nos contaram que os bandidos
que estavam fazendo isso moravam aqui.
- E você veio sozinho!?
- Qual o problema? Eu venci o Senhor do Fogo sozinho, não venci?
- Mas lá não tinha o veneno do mercúrio!
Katara levanta-se e sai andando rápido e deixa Aang para trás. Ele corre e a puxa pelo braço.
- Por que ficou brava de repente?
- Por quê? Porque eu passei um grande desespero desde que senti que
você estava em perigo até chegar aqui e te encontrar caído e doente. E
tudo por causa dessa sua arrogância de “Eu sou o Avatar!”, “Eu consigo
derrotar todos!”...
- Eu não disse essas coisas, mas. . . – abraçou-a forte e disse,
olhando nos olhos dela, bem perto, os lábios quase se tocando – Me
desculpa se eu fiz você sofrer.
Katara sentiu o corpo amolecido com o jeito carinhoso de Aang. Deitou a cabeça no ombro dele e falou:
- Tudo bem, depois a gente . . . – não conseguiu terminar de falar.
Aang virou-se e encostou os lábios dele contra os dela como nunca havia
feito antes. Foi um beijo longo, profundo, cheio de desejo.
- Aang! O que foi isso? – Katara falou sem fôlego.
- Eu estava morrendo de saudades. – e voltou a beijá-la com volúpia, durante o tempo que a falta de ar permitia.
- Hei! Vocês dois! Já chega de namoricos. Hora de sairmos daqui.
Aang se afastou de Katara, mas segurou sua mão e falou.
- Tem um cara terrível lá em cima que me atacou com raios e fez eu cair
nesse buraco. Eu tenho que encontrar ele novamente e acabar com isso.
Ele tem escravizado pessoas para trabalhar pra ele em busca de ouro.
- Já sabemos, Aang. Ele era namorado de Azula e parece que não sabia
que Mai e Ty-lee tinham passado para o nosso lado. Elas o deixaram
pensando que éramos todos amigos da Azula. Foi por isso que conseguimos
chegar até aqui. – falou Sokka, olhando para os lados. – E agora, como
saímos?
- Aang, agora que você está bem, é sua vez de ajudar. Vamos botar esse chão pra tremer! – disse Toph, toda animada.
- Vamos, Toph!
Aang e Toph abriram um túnel que subia em diagonal para o alto e
elevaram o chão onde todos estavam deslizando-o para cima. Em questão
de minutos abriram um grande buraco bem em frente à mansão.
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